sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Minha Rua


A vida dá muitas voltas.
Depois de tanto percorrer ali voltei.
Tenho essa felicidade.
Toda a gente tem a sua, embora não lhe chame sua.
Eu posso dizer que é minha.
Mas não é só minha, tem mais donos.
Conheço-a desde que nasci e nela dei os meus primeiros passos.
Já nada é igual. Nem o cheiro.
Outrora calma e poeirenta, agora movimentada e vestida de negrura.
Raramente tem crianças correndo ou jogando.
No meu tempo, era ali o ponto de encontro da miudagem da vizinhança.
Era ladeada de casas e de um parreiral.
No meio da fileira do parreiral havia três moradias.
Ali morava a Maria Abreu e o João Constâncio que era sapateiro.
As parras defendiam uma vinha.
As bolas de borracha rebentavam nas parras.
Das parras comíamos os figos.
As casas ainda lá existem, mas o parreiral deu lugar a um muro que protege uma piscina.
Agora existem algumas árvores, mas dantes não.
Era ampla, embora estreita.
Agora mais larga, é certo, mas com muito espaço para estacionamento.
Em dias de festa fica repleta de automóveis de um lado e de outro.
É a primeira que vejo, e a calma que transmite, invade-me para todo o dia.
E é a mesma que levo para casa ao recolher.
Ali joguei, corri, brinquei e criei amizades.
O Armando, o Pedro, o Eduardo, o Carlos, o Luís, o António…
Recordo os velhos senhores João, Abílio, Francisco, Manuel Carlos, Zé Maria, Eugénio, Zé Augusto… as senhoras Zulmira, Nídia, Deolinda, Mercês, Laura...
Os vizinhos antigos partiram, novos foram chegando.
Serei, neste instante, o único que ali mora e que ali nasceu.
A porta azul, a tal que está sempre aberta, dá acesso àquela que não é só minha,
Mas é como se fosse.
É, a minha rua!

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