O dia nasceu solarengo, mas ao princípio da tarde nublou-se e arrefeceu.
Quase noite, acalmou esse frio e o ambiente até estava agradável.
De conversa em conversa, de café em café, lá fui socializando e recordando figuras que fizeram parte do meu imaginário.
A história, para além de caricata, não deixa de ser engraçada pelo quase ineditismo que contém.
Ele era já um velho. Um idoso octogenário. Eu, um fedelho, rapazola.
Mas recordo aquela imagem de um homem de meia estatura, magro, de luto vestido, camisa abotoada até acima, o boné, da mesma cor, tapando-lhe as cãs e de óculos graduados.
Andava apressado e de passo curto.
Até parecia que não queria chegar atrasado onde fosse.
Mas o mais engraçado de tudo isto, é que levava sempre qualquer coisa nas mãos.
Um bocado de madeira, uma pedra, um parafuso, um serrote, uma chave de fendas, um alicate… qualquer coisa.
Por vezes dava-me pena de, pelo facto, ele ser motivo de chacota.
Fazia, de uma dependência do velho Lar de Idosos, o seu armazém.
Quando um operário da construção civil não encontrava o que necessitava em qualquer loja da especialidade, sempre se socorria, procurando naquela amálgama de “inutilidades”, a peça/artefacto que lhe solucionasse o problema.
Quando fechou os olhos para sempre, o seu “armazém” foi rebuscado de modo, a que muitos dos seus “clientes” habitués, pudessem usufruir das suas vanidades, quanto mais não fosse, para recordação.
Quando alguém lhe perguntava, admirado, porque razão o Ti Zé Caneira levava sempre algo na mão, respondia com uma máxima que, até hoje, nunca mais esqueci:
“Guarda o que não presta e virás a saber o que te é preciso”.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
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