quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Recanto Poético - Armando Soares Imaginário

A minha Terra, a Chamusca, tem sido berço de grandes nomes da poesia. Nem todos são conhecidos, é certo, mas têm um lugar destacado na cultura local e um particular carinho deste que vos escreve. Não o conheci devido ao seu precoce desaparecimento. Todavia, foi colega de escola de um grande Amigo que tive e, que um dia, terá aqui o seu destaque. Foi esse comum Amigo que me despertou para a poesia do seu condiscipulo já que a dizia com um seu, muito próprio, sentimento. Hoje, sou eu que os digo, da melhor maneira que sei, em noites de fado ou em tertulias de amigos. 
Armando Soares Imaginário amou a sua, nossa, terra, o Ribatejo e as suas tradições. Também, como qualquer mortal, sofreu de amores. São três sonetos que vos trago, editados que foram em livro, de titulo "Chamas e Cinzas", pela Junta de Freguesia local, logo após a sua morte e reeditados muitos anos depois. Mas a sua vasta obra continua, infelizmente, guardada na gaveta. Ou por capricho de familiares (que me perdoem) ou por desprendimento da Edilidade, continuam sem ver a luz do dia. Digo-vos sinceramente, porque conheço a obra, que é uma pena. 
(foto retirada da Revista "Chamusca Ilustrada", nº 9, Maio de 1978, pág.168)

Chamusca

Chamusca, meu jardim de fantasia,
Onde eu cultivo as flores da afeição.
cada recanto, lindo, é um talhão,
Que lentamente o Tejo acaricía.

Subindo ao Pranto, a sua casaria
É roupa branca, ao sol, por sobre o chão.
Bandos de aves, que em lucida visão,
Abrem asas no céu, que as delicía.

Chamusca, minha amada, meiga e terna,
Que doce, que amorosa, que materna,
Que simples, que suave, que tranquila.

Chamusca, eu amo-a tanto que quisera,
Até depois de morto, quem mo dera,
Na terra que me cubra inda senti-la.

Ribatejo

Oh terra de meus pais, oh terra amada minha
Oh terra do campino heroico e juvenil,
Em que o sol, num quente abraço, afaga e acarinha
Tornando-lhe a campina fértil e gentil.

Leziria onde domina o toiro, sempre hostil,
Do campo mais ridente à terra mais daninha,
Arena, onde uma luta enorme e varonil,
Do homem contra a fera,
Em tudo se adivinha.


Oh terra que eu adoro e exalto apaixonado
Encantador jardim, cantinho idolatrado
Por onde o Tejo corre, entorpecido e plano.

Oh terra meu amor, amor da minha vida.
Eu hei-de afirmar alto, em voz sentida,
Que todo o meu orgulho é ser Ribatejano.

Tu
Pensou bastante Deus para te formar,
Que pouco lhe sobrava na sua frente.
Foi... e tomou do sol a luz ardente
E a escuridão da noite, o teu olhar.

Pôs-te na boca pérolas do mar,
Perfumes sensuais do Oriente,
Colocou-te na voz o som dormente
Do Vento sussurrando num palmar.


Ao corpo, deu-te a vaga languidez,
Do tremor de um bambu em céu chinês,
A luz de um sol que em fogo esmoreceu.

Deu-te o amor, o ódio, a crueldade,
A dor , o sofrimento e a vaidade,
E no fim... deu-te um escravo, que sou eu.

1 comentário:

  1. Olá Moonlight, (esta fica só entre nós) LOL.
    Resolvi escrever alguma coisa. Gosto do te blogue e porque te conheço há quase 28 anos posso garantir a todos os que o lêem que é escrito com muito carinho, às vezes até altas horas da noite, quando estamos os dois na sala eu com os meus livros e tu com o teu blogue. Escreves histórias sobre a tua terra com uma alegria extenuante, ris, recordas pessoas, locais há muito esquecidos, revives amigos, e desenterras memórias. LIBERTAS ASSIM O TEU AMOR A ESTA TERRA, que apesar de não ser a minha acaba por ficar tatuada junto ao meu coração, CONTINUA...
    Beijos

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