quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal... Natal.....


NATAL


Mais uma vez, cá vimosFestejar o teu novo nascimento,

Nós, que, parece, nos desiludimosDo teu advento!

Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!

Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,

Festejar-te, ─ do fundoDa miséria que somos.

Os que à chegadaTe vimos esperar com palmas, frutos, hinos,

Somos ─ não uma vez, mas cadaTeus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:

Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;

Mas por trinta moedas te entregamos;

E por temor, negamos o teu nome.

Sob escárnios e ultrajes,

Ao vulgo te exibimos, que te aclame;

Te rojamos nas lajes;

Te cravejamos numa cruz infame.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,

Como um farol de salvação,

Sobre as cidades em que ferve extremos

A nossa corrupção.

Os que em leilão a arrematamos

Como sagrada peça única,

Somos os que jogamos,

Para comércio, a tua túnica.

Tais somos, os que, por costume,

Vimos, mais uma vez,

Aquecer-nos ao lume

Que, do teu frio e solidão, nos dês.

Como é que ainda tens a infinita paciência

De voltar ─ e te esqueces

De que a nossa indigência

Recusa tudo que lhe ofereces?

Mas, se um ano tu deixas de nascer,

Se, de vez, se nos cala a tua voz,

Se, enfim, por nós desistes de morrer,

Jesus recém-nascido, o que será de nós?!

NATAL DE QUEM?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.

-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!

- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?

- Já vão a caminho!

- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?

- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:

- Foi este o Natal de Jesus?!!!

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