quinta-feira, 1 de abril de 2010

AS DESVENTURAS DO "ZECA DA SHELL"

Seu nome é José Manuel mas é mais conhecido pelo Zeca da Shell.
Logo após terminado o serviço militar, casou e partiu para França onde esteve 17 anos.
Lá trabalhou e ganhou bom dinheiro que serviu para construir duas boas moradias na sua terra natal, para ele e para a filha.
Foi o princípio de uma conversa após lhe ter perguntado se os troféus, expostos no café restaurante que dirige, eram de caça já que aquela casa de pasto leva o nome de Caçador.
Respondeu-me: Já lá vai o tempo, mas a perna já não me deixa.
É preciso andar muito e o esforço é demasiado.
Mostrou-me então o resultado de uma cirurgia mal efectuada, no Hospital em Coimbra, a uma variz interna.
Nunca mais cicatrizou, adiantou, e tenho de usar uma meia elástica e por pomada todos os dias.
Regressou de França há cerca de quinze anos e há dez que ali está naquele restaurante.
Foi uma grande cabeçada que dei em ter regressado, acrescentou.
Um dos factores que se queixa foi ter mandado a mulher, na altura grávida, para Portugal.
Se lá tivesse ficado mais algum tempo, estaria agora a receber uma boa reforma dos anos de trabalho.
Fez questão de a filha vir nascer a Portugal e perdeu a hipótese de ganhar mais alguns trocos, já que, com a naturalidade francesa, o governo gaulês sempre lhe concederia um subsídio.
O mesmo aconteceu com a operação à variz interna.
Se lá a tivesse feito e o resultado fosse idêntico, agora poderia estar a receber mais algum dinheiro por invalidez.
Tudo isso teria sido um bom pé-de-meia, e neste caso elástica, digo eu (perdoem-me a ironia).
E assim, quase aos 55 anos, o Zeca da Shell trabalha de manhã à noite, servindo ao balcão e à mesa com as preciosas ajudas da filha e da esposa.
Enfim, por vezes o amor à terra, ao torrão natal, faz com percamos a hipótese de viver bem melhor economicamente, mas o coração manda mais que a razão.


http://soundcloud.com/mdomingos/de-porta-aberta-01-de-abril


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